https://www.youtube.com/watch?v=VtYP1Zrd8Gw
Em todas as festividades, não pode faltar o chá cigano tradicional e energético, que tem um significado especial em cada ingrediente. Este chá tem uma conotação espiritual tão intensa, que fazê-lo e tomá-lo requer um ritual.
Cada ingrediente usado tem um significado especial, por isso tem que ser escolhido com muito cuidado.
Samovar, utensílio de origem russa, é apropriado para preparar e servir o chá. Isso dá a esse ritual um aspecto rico, requintado e característico. Se você não possuir um, escolha uma chaleira ou bule bem decorado para fazê-lo.
Ingredientes usados no ritual do chá:
Para servir com o chá: Colocar numa tigela à parte, já previamente lavadas, as frutas: morangos, damascos, uvas Itália, ameixas secas e maçãs picadas ao suco de limão. A quantidade de frutas deverá estar de acordo com o número de pessoas a serem servidas.
Preparação do chá: Ingredientes:
2 litros de água
28 cravos – o cravo significa energia física e força vital que vai para a corrente sanguínea
28 paus de canela – a canela é revigorante
21 anis estrelado – representa a união com seu Eu interior. Paz
Caldo de 3 laranjas pêra – a laranja significa alto astral, alegria
Modo de fazer o chá:
Quando a água atingir a fervura, junte todos os ingredientes e deixe ferver por alguns minutos.
Serve-se o chá como um ritual. Em cada xícara deve ser colocada uma fruta de cada espécie citada acima, pois cada uma tem um significado:
Morango – harmonia e purificação do organismo
Damasco – transcendência, prosperidade, força e equilíbrio
Ameixa seca – transformação
Pedaço de maçã ao suco de limão – paixão, casamento, união e amor.
Saúde! Namastê!
O povo cigano, de origem asiática, tornou-se peregrino devido às perseguições sofridas. Em geral, quem fazia uso dos oráculos eram as mulheres, e nenhum cigano tomava alguma atitude sem antes ouvi-las. Praticavam o jogo de dados, o jogo de espelhos, a leitura da borra de café, a leitura das mãos e das cartas.
Não se conhece muito sobre a origem do baralho cigano, mas há quem afirme que, ao passar pelo antigo Egito, os ciganos tenham tido contato com o Tarô, que era utilizado pelos sacerdotes e iniciados egípcios. Pela condição de peregrinos, os ciganos precisavam de um oráculo que lhes permitisse prever o futuro, entender o passado e saber como lidar com o presente. No entanto, o Tarô parecia muito subjetivo e seus símbolos não correspondiam ao cotidiano do cigano. Sendo assim, os ciganos criaram um novo “jogo” baseado naquele que tinham conhecido no Egito, mas repleto de símbolos ligados à sua magia e sua tradição. Este novo Tarô – conhecido como Tarô Iniciático ou Tarô Cigano – jamais foi revelado aos gajon (não ciganos). Suas lâminas eram pintadas à mão e passavam por herança de mãe para filha, o que permitiu manter o segredo até o século XX.
Por volta de 1770, uma não cigana, Madame Le Normand, mas interessada na cultura e no oráculo cigano, conseguiu uma cópia dessas lâminas e mandou imprimir, com base nelas, um baralho, ao qual chamou inadequadamente de “baralho cigano”. O seu erro foi ter confundido o verdadeiro oráculo do povo do oriente com uma versão simplificada, que os ciganos usavam quando consultavam os gajon. Mas, para manter segredo sobre seu “Tarô”, os ciganos silenciaram a respeito do engano de Me. Le Normand. Entretanto, ocultando este fato, permitiram que os gajon entrassem nesta onda mágica de prever o futuro, explicar o passado e entender o presente. O Baralho cigano é composto de trinta e seis cartas que são dispostas de várias maneiras, conforme a necessidade do consulente.
Para lidar com o Baralho devemos olhá-lo com respeito, além de procurar conhecer e entender um pouco da cultura cigana, de que é oriundo. O ritual para sua utilização é bastante importante, estando incluídos os quatro elementos: fogo, água, ar e terra. Cada um desses elementos irá atrair energias positivas, benéficas à leitura e ao ledor, protegendo-o de influências intrusas.
O Baralho Cigano reflete a direção da vida da pessoa no momento em que ela está consultando as cartas, embora também revele a profunda motivação inconsciente do passado, que contribuiu para a atual situação. A observação dos símbolos desperta o interesse, a curiosidade, o receio e a esperança: sensações que ativam o inconsciente e permitem assim, que haja retrocesso no tempo e no espaço. Através dessa viagem, vai sendo trabalhado, gradativamente, o autoconhecimento, a iniciativa e a liberdade individual. Quanto maior for a precisão com que se observa as leis do Universo e os próprios pensamentos, maior será a nitidez das verdades mostradas pelas cartas.
Cabe a quem interpreta o Baralho, produzir e conduzir essa troca mágica de energia, favorecendo essa viagem interior.
As cartas não descrevem fatos concretos de forma predestinada, ao contrário, elas apenas ilustram as influências, as oportunidades e os motivos ocultos, muitos dos quais poderão se concretizar em fatos ou pessoas.
Hoje, o Baralho Cigano é encontrado à venda em lojas esotéricas e livrarias e ocupa um lugar tão privilegiado quanto o Tarô, na sociedade. Com um pouco de prática, toda pessoa pode receber e compreender as mensagens simbólicas das cartas, que revelam dons pessoais ocultos e dão indicações futuras no que diz respeito ao plano sentimental, situações financeiras e mesmo armadilhas que devem ser evitadas. Não é necessário ser um paranormal para efetuar a leitura das cartas ciganas, mas é extremamente importante estudar seus significados e estrutura. Através desse estudo, pode-se facilitar a fluidez da intuição. Uma boa leitura deve ser resultante de uma perfeita harmonia entre a técnica de leitura do baralho e nossas faculdades intuitivas.
Banho da prosperidade:
Costume que vem dos países da Europa central, principalmente Hungria e Áustria.
Logo que o bebê cigano nasce, geralmente ainda na primeira semana de vida, é preparado o banho da prosperidade ou o banho da sorte para o pequeno cigano ou cigana. Os preparativos são realizados pela mãe do bebê e pelas demais mulheres do clã, pois um bebê representa para todos a garantia da continuidade de seu povo.
O RITUAL: Após um rápido banho de higiene, o bebê é transferido para outra bacia contendo água pura, as jóias de família, pétalas de rosas brancas e algumas gotas de mel.
A água pura simboliza a própria vida, traduzindo o sentido da purificação, da limpeza natural do corpo físico e do corpo áurico e do livramento das faltas cometidas no passado.
As jóias significam o desejo de que o bebê seja rico, próspero e bem sucedido financeiramente.
As pétalas de rosas brancas expressam a vontade de que o bebê tenha uma vida bela, perfumada. Bem sucedida no amor, e repleta de paz (o branco).
As gotas de mel traduzem o desejo de que aquele novo ser tenha uma vida tranqüila, doce, livre de sofrimentos e dores, com saúde.
Enquanto o bebê é banhado por sua mãe, as mulheres rezam, especialmente a mãe do bebê, velhas orações herdadas dos antepassados. O clima é de muita alegria. Vida longa, rica e próspera, cheia de amor e paz sustentada por uma saúde perfeita é o significado abrangente do banho da prosperidade.
Após o banho todos se reúnem para dançar, comer, beber e cantar, felizes por terem cumprido mais uma vez um ritual talvez milenar, de desejos positivos ao pequeno ser, nas mãos do qual se deposita a esperança da continuidade do clã e do próprio povo cigano.
O nome:
Em geral, um cigano possui três nomes: o primeiro, que só ele e sua mãe conhecem; o segundo, como ele é chamado pelos ciganos do clã; e o terceiro, como é chamado pelos gajons.
O primeiro nome, absolutamente secreto, é escolhido pela mãe e soprado em seus ouvidos na ocasião da primeira mamada. Este nome somente é conhecido por sua mãe, não sendo registrado ou comentado com ninguém. Somente aos sete anos de idade a pessoa passa a conhecê-lo, mas nunca o revela a ninguém. O povo cigano acredita que este nome é a ligação espiritual entre a mãe e seu bebê, e é usado apenas em situações bastante difíceis ou complicadas, em apelo especial de proteção.
A Slava:
Toda criança cigana possui um santo protetor escolhido por seus pais. A escolha do santo é feita por algum aviso recebido em sonho, como homenagem por alguma graça recebida, ou através de alguma mensagem que soe como um aviso.
Todos os anos, no dia do santo protetor, a família promove uma festa em homenagem ao santo. Os pais prosseguem com esta obrigação durante toda a vida do filho e, quando eles morrem, cabe ao filho prosseguir da mesma maneira com a cerimônia anual, enquanto viver.
Esta festa é conhecida como slava e para ela são convidados os parentes e amigos mais chegados.
A festa começa pontualmente às doze horas, com os pais, a criança e os convidados reunidos em torno da mesa onde serão servidas as bebidas, a comida, as frutas e o vinho. No centro da mesa é colocada a imagem do santo protetor, uma vela enfeitada de flores, um pão redondo e uma garrafa de vinho. Logo após acender a vela, que dá início à festa, o pai e a criança, frente a frente na cabeceira da mesa, começam a girar o pão recitando preces de agradecimento. Um parente próximo então derrama um pouco de vinho em quatro partes do pão, que serão beijadas pelo pai e pela criança. O pão em seguida é partido ao meio e recolocado no centro da mesa. Às dezoito horas, os pais renovam os agradecimentos e reforçam os pedidos ao santo, apagando a vela com um pedaço de pão bento.
Depois disso, todos comem, bebem, cantam e dançam em louvor à criança e ao santo protetor.
A cerimônia do Noivado:
Antigamente, o compromisso matrimonial era firmado quando os filhos eram bem pequenos, muitas vezes quando as mães ainda estavam grávidas. Com o passar do tempo este costume foi se perdendo, mas ainda nos dias atuais é possível encontrarmos noivos que só passam a se conhecer no dia do casamento.
Segundo a tradição, a festa de noivado era realizada com a troca de punhais comprados pelas famílias dos noivos. O punhal da noiva era mais enfeitado com pedrarias e feminino, e o do noivo mais discreto. Após a confirmação do noivado, os punhais eram guardados cuidadosamente até o dia do casamento quando voltariam a ser usados na parte mais importante do casamento.
Quando o compromisso de matrimônio era firmado entre as famílias, os pais dos noivos compravam uma garrafa da mais fina champanhe ou vinho da melhor qualidade e embrulhavam a garrafa em um lenço de seda vermelho. No dia do noivado a bebida era servida para brindar os noivos e o punhal da noiva guardado nesse mesmo lenço vermelho até o dia das bodas.
O noivo presenteia a noiva com o kepara, cordão de ouro que simboliza o compromisso de noivado. Caso seja rompido o compromisso, o que raramente acontece, o kepara é retirado e devolvido à família do noivo, pois em geral é jóia de alto valor.
No dia do noivado os pais da noiva fixam o valor a ser pago como dote no dia do casamento pelos pais do noivo. A quantia é baseada nas qualidades da moça, em sua beleza e em seus conhecimentos e habilidades para bem administrar o futuro lar. Quanto mais prendada e bonita for a jovem, maior será o valor do dote. Esta importância a ser paga, em geral em moedas de ouro, não é encarada como compra da noiva, mas como uma retribuição pelos gastos futuros e proteção dada à noiva pela família do noivo, pois depois de casados, manda a tradição que residam com os familiares do noivo de um a três anos. Este tempo é fixado para que a jovem esposa se adapte à sua nova família, aprendendo todos os gostos e hábitos de seu marido. Ela deverá tratar os sogros como sua verdadeira família, como pai e mãe, sendo tratada como uma filha. Deverá responder obedientemente à sogra e ao sogro, além do marido é claro. É sua obrigação zelar pela casa e responder integralmente por ela na ausência da sogra. No entanto, se ela for espancada ou mal tratada pela sogra, poderá retornar ao lar paterno, não sendo sua família obrigada a devolver o dote recebido na ocasião do casamento.
Com o nascimento do primeiro filho, o casal poderá deixar a casa de seus pais e seguir o rumo que desejar, com uma exceção. Caso o jovem seja o filho caçula, deverá permanecer morando com seus pais e esposa, cuidando deles em todas as suas necessidades até o final de seus dias, e ele será o maior beneficiário dos bens paternos, herdando a casa em que estiver morando e todos os bens nela existentes. O restante do patrimônio dos pais será dividido entre os outros filhos.
O Casamento:
A festa de casamento é uma das mais bonitas quando realizada segundo as tradições. Alegre, colorida e muito concorrida, ela pode durar vários dias, principalmente se os pais do noivo forem ricos, pois são eles que arcam com as devidas despesas.
Cabe à família do noivo arranjar o local para a festa, as acomodações para os convidados, especialmente os que vierem de longe, e todas as custas das comidas e bebidas, que devem ser fartas e de excelente qualidade. A festa de casamento é uma das raras oportunidades de um cigano mostrar seu poderio econômico, motivo de vaidade familiar e pessoal. Os pais do noivo também mandam confeccionar os trajes dos noivos, inclusive a da noiva, sendo a vestimenta a melhor maneira da demonstração da riqueza dos futuros sogros. O vestido da noiva, na cor vermelha, deve ser de tecidos caros como seda, o brocado e as rendas, bordados com fios de preferência de ouro e ela deve comparecer à cerimônia usando as principais jóias da família e as presenteadas pelos pais do noivo, que devem exceder em valor e beleza as primeiras. Prendendo parte dos cabelos a noiva traz nos cabelos o lenço vermelho, também rico e com aplicações em ouro. O noivo se casa também de vermelho como cor principal, podendo usar o branco como cor complementar. Ele usa cordões de ouro no pescoço e sobre a faixa vermelha de seda enrolada na cintura correntes com moedas de ouro. Os pais dos noivos e os convidados usam seus melhores trajes e joias.
A bênção nupcial ou consagração do casamento é oficiada pelo patriarca do clã, um leigo (os ciganos não possuem sacerdotes), investido de autoridade para tal.
É armado um altar próximo à tenda principal, ornamentado com flores, especialmente rosas vermelhas e brancas, e sobre ele colocada a imagem de Santa Sara e do santo protetor. Velas de várias cores são acesas ao lado de taças com água e vinho, significando a luz, a vida e a alegria, respectivamente e de braseiros junto ao altar evola a fumaça de incensos purificando o ar de qualquer energia negativa que possa estar presente. Peças de ouro e jóias permanecem em um pequeno baú sobre o altar, expressando o desejo de que os noivos sejam prósperos e não passem necessidades. Frutas, doces e trigo completam a decoração, traduzindo os votos de fartura para o jovem casal e que nunca faltem alimentos m sua tenda.
É iniciada a cerimônia. O oficiante posta-se diante do altar e os noivos colocam-se frente a frente, diante dele, cercados pelos parentes e convidados, que silenciosamente testemunham o rito matrimonial. Entre rezas e invocações, o oficiante segura os punhais trocados por ocasião do noivado, sendo o lenço vermelho de seda atado ao punho dos noivos por um parente próximo. Através do lenço, o punhal da noiva realiza um pequeno corte no punho do noivo e vice-versa. Este é um momento simbólico do ritual quando o sangue dos noivos se mistura significando que eles estão unidos para sempre. Desatado o lenço os punhais são guardados juntos no mesmo lenço vermelho pelo casal, num local reservado e secreto da tenda para que tenha união e entendimento enquanto durarem suas vidas. Os ciganos não casam pensando em separação, mas em união eterna.
Realizado o ato com os punhais, um pequeno pedaço de pão com um pouco de sal é oferecido aos noivos para que comam, simbolizando o alimento e o sabor. O pão, o alimento, a união duradoura do casal, e o sal, o sabor, a capacidade de superarem as agruras e dissabores pelo amor de um pelo outro. Enquanto o pão nutrir e o sal tiver sabor, o casal permanecerá unido.
Finalmente, chega o final da cerimônia. Uma taça de cristal com vinho é oferecida aos noivos. Primeiro bebe a noiva e depois o noivo, que em seguida atira a taça ao chão para que se quebre. A taça deve ser do mais fino cristal para simbolizar a vida transparente do casal, onde o amor deve imperar acima de tudo. O vinho traduz a alegria e a felicidade, que envolve os jovens e a quebra da taça o desejo de que nada abale a união do casal, que deve ser perfeita, harmoniosa e forte apesar de toda a fragilidade de uma união. Caso a taça não quebre, isto traduz um sinal de mau agouro ou que a união poderá se desfazer. Nesse caso, o noivo pisa fortemente na taça para esmigalhá-la, expressando e dizendo publicamente que ele e sua mulher estarão juntos para sempre apesar de qualquer adversidade ou contratempo. O simbolismo do cristal é ainda mais rico, pois seus pedaços não podem ser rejuntados, ou colados uma vez quebrado, pois ficam estilhaçados, não oferecendo a menor possibilidade de recuperação. Assim deve ser o casal cigano: lindo, transparente, firme e sólido, apesar da extraordinária fragilidade humana e seus vínculos.
Novas orações e pedidos da proteção de Deus para os noivos e cerimônia em si termina, mas a festa ainda tem de aguardar mais um momento precioso e sério, quando a virgindade da noiva, agora esposa, será verificada pelas mulheres mais importantes do clã. Quando a jovem esposa passa pelo teste, verificando-se que ela ainda é virgem, as mulheres e a recém-casada saem da tenda com ar de triunfo, sendo o fato participado a todos, e a festa pode começar.
Começa enfim a festa propriamente dita, com muita música, danças, comidas e bebidas. Fogueiras são acesas e uma contagiante felicidade toma conta de tudo. A festa de casamento e sua cerimônia é, sem dúvida, a maior expressão da exaltação cigana da amorosa natureza deste povo, da entrega incondicional de um homem à sua mulher e desta mulher a seu homem.
A expressão Dança étnica é assim designada para falar sobre a dança que em seus movimentos manifesta ritmos, traços, tradições e ou crenças de um determinado grupo étnico. É assim que os ciganos procuram, com seus passos determinados, mãos em delicados arabescos, pés em volteios sedutores e ritmos fortes, manifestar a história, poesia e fé do povo cigano.
A dança cigana é uma dança altamente contagiosa. A alegria, a exuberância das cores, os gestos que trazem o feminino à tona, a sensualidade e o prazer de se entregar a um ritmo que une coração, alma e misticismo. A dança cigana é uma dança solta, da alma. Dizem os antigos, que os ciganos dançam para atingir a verdadeira essência da Deusa ou do Deus interior e superior. Por isso, dificilmente, os ciganos fazem coreografias; dançam soltos e livres, colocando em cada movimento suas emoções.
Dançar ao ritmo cigano não é apenas reproduzi-lo em movimentos; a dança é uma oração única, onde o bailarino tem a oportunidade de mostrar quem é, ou seja, seu ser, sentimentos, sonhos, a sabedoria que adquiriu em sua jornada e tudo que ainda busca, sua comunhão com a natureza e o sagrado, descobrir que faz parte de um todo divino chamado Universo.
“Com a cabeça levantada demonstra o poder de sua raça, o bater dos pés na terra clama a força desse elemento para bailar, as mãos para o alto pedem licença para exaltar a natureza, com a força feminina entrega-se ao ritual da dança e banha de beleza e mistério o espetáculo cigano. O barulho das moedas e pedras também tocam música no ritmo do rodopiar da cigana, as palmas envolvem e alimentam a força da cigana, que na sua oração saúda os presentes na comunhão do sagrado e da alegria.” Sumaya Sarran.
O povo cigano respeita e cultua os quatro elementos da natureza - terra, fogo, água, ar e éter - e os representam, na dança, através do que usa ao dançar: o leque, lenço ou xale, rosa, pandeiro, fitas coloridas, véu, tochas, punhal, cada com um significado especial, que complementa e objetiva as mensagens que quer passar. Seu uso ou não nas danças ciganas depende dos costumes do grupo ou das famílias, os lugares pelos quais passaram e quanto tempo ficaram, as afinidades e as suas ascendências:
Leque: O leque passeia há séculos nas mãos das mulheres, mas seu uso prático pouco tem a ver com os aspectos valorizados pela cigana ao dançar. Da maneira que se abre pode representar as fases da lua e da mulher, seus reais desejos ou apenas o que quiser demonstrar. É um poderoso instrumento de limpeza energética, magia para a cura e sedução. Sendo assim, está constantemente nas mãos espertas de uma cigana, atraindo a atenção para seu mistério e poder. O leque é mais característico nas danças kalóns, mas pelo seu encanto as mulheres que gostam, usam-no sempre que podem na sua dança. Representa o elemento ar , o amor, a sensualidade e a limpeza.
Xale: Representa o mistério e a magia do elemento fogo. Dançar com o xale é agradecer todas as dádivas ao criador, a sua força, o poder de ser mãe, o poder de seduzir o seu amor e também proteção e família. É usar toda poesia, força e magia. Representa também união, casamento e amor. O lenço é encantador quando seguro delicadamente nos dedos da cigana, envolvendo-a de mistério e aos poucos revelando sua beleza e poder. Ao dançar com o lenço, seus desejos, sentimentos e sonhos são movidos pelo deslizar do lenço pelo ar, no transe da música, livre como o vento e infinito como o céu. O lenço também transforma e limpa o ambiente, e pode representar pedidos ou coisas da vida que queremos mudar ao dançar. É uma das danças ciganas femininas mais belas, por isso pode ser encontrada de várias formas nas danças de todos os grupos ciganos.
Rosa: Elemento terra. Representa o amor, a beleza, a conquista, sedução e a sensualidade. É a beleza interior e a exterior. Os ciganos dançam, muitas vezes, com uma rosa presa entre os dentes, para presentear a mulher que está envolvida na dança.
Pandeiro: Dança dos quatro elementos, denota a alegria e sugere uma festa. Serve também para purificar o ambiente. O pandeiro traz a alegria do sol, saudando-o com inúmeras fitas coloridas, representando seus raios protetores e vivos. Como todo instrumento que faz barulho, ele tem como função expulsar os maus espíritos ou energias negativas, abrindo caminho para o povo festejar. Sua mensagem é mover, transformar o que está parado em ritmo, revigorar o nosso corpo com a alegria e o calor da dança, assim como o sol faz conosco. O uso das fitas pode ter nascido como um calendário para marcar eventos importantes e a idade; para saudar a chegada da primavera; para representar, através das cores das fitas, pedidos ou bênçãos. É mais utilizado nas danças do grupo Rom, acompanhando violinos e outras percussões.
Fitas coloridas: Elemento água. Representa as lágrimas de alegria e tristeza derrubadas pelo povo cigano. Representa também a comemoração, a limpeza, alegria e infantilidade. Dançar com fitas é quase uma brincadeira de criança, alegra qualquer tipo de ambiente, festeja os nascimentos e casamentos. Os movimentos das fitas rodopiantes manifestam o ritmo da vida e a alegria de fazer parte dela. As fitas são mais utilizadas nos ritmos rons, porém podem ser usadas em qualquer ritmo alegre.
Véu: Representa o elemento ar e expressa a leveza do corpo e a sensualidade.
Dança dos sete véus: Geralmente usada como uma despedida de solteiro. Representam as sete cores do arco-íris, simbolizando o amor e a sensualidade. As cores dos véus simbolizam os quatro elementos.
Tochas: Mostra a fúria e o poder do fogo. Representa a purificação e a limpeza pelo fogo.
Dança do punhal: Elementos ar e terra. Os ciganos sofreram muitas perseguições por seus conhecimentos esotéricos. Bruxos, feiticeiros, sacerdotes, ciganos… todos tiveram que adaptar seus cultos para que não fossem presos. A maioria passou a utilizar elementos do dia a dia em seus rituais e os transformaram em mágicos. Os ciganos passaram a usar o punhal e a adaga. As mulheres geralmente preferem os punhais, mais estreitos e delicados. Os homens preferem as adagas, mais largas e boas para briga, embora seja um povo essencialmente pacífico.
O punhal significa lutas, disputas, fúria e pode simbolizar a limpeza do ambiente e do corpo. Representa o corte, a força e a limpeza. Na dança ritual, o punhal é usado para realizar curas e magias. A maneira de trabalhar pode variar a cada clã ou família, mas geralmente mentalizam as forças da natureza e fazem movimentos que evocam os quatro elementos, de acordo com o que desejam.
Há muitas lendas e histórias sobre lutas, batalhas, brigas com punhal. Nem sempre são verdadeiras, mas certamente representam a luta e a força dos ciganos. No bailado de desafio, essa força é representada. O ideal é que não seja dançado sozinho, e sim, em dupla, para que haja troca de energia. Mas lembre-se: coloque sua força no olhar, dance, sinta o prazer do desafio e, ao final, cumprimente sua parceira de dança. A dança de desafio é só uma representação e acaba quando a música termina.
Dança dos quatro elementos: Feita com representações dos quatro elementos como: Vela, incenso, jarro d'água e sal. Significa magia e limpeza do ambiente.
Saia – Representa toda a força cigana, a sedução, respeito e alegria e quanto mais rodada a saia, maior é a sua força. Bater a saia é limpar, ordenar ou mesmo harmonizar as energias que estão desequilibradas. A saia guarda o nosso útero, e ser mãe é uma dádiva divina.
Bater Palmas: Bater palmas é um ato para saudar as alegrias da vida e homenagear os espíritos dos antepassados, sempre com o ritmo da música.
Quem se dedica à dança cigana segue os passos do coração. Dançar eleva a autoestima e faz redescobrir a sensualidade e reencontrar o seu lado feminino. Por ser a dança cigana mágica, reflete a alegria de um povo, que trás consigo o mistério através dos passos e dos movimentos que saúdam, invocam e fazem fluir a mais bela e elevada vibração energética.
A Dança Cigana não só faz bem ao corpo, mas também à alma. Formada por vários ritmos e coreografias diferentes, cada qual com seu significado, num composto de leveza, alegria e sentimentos.
Não se tem muitos documentos a respeito da história dos ciganos porque sua língua é ágrafa, sem grafia, não existem registros escritos. A informação nos é chegada através de afirmações orais nem sempre comprovadas.
Somente no final do século XVII é que podemos ver generalizados o degredo de ciganos para o Brasil. Bandos deles, provenientes de Castela, entravam em Portugal. Sua Majestade D. Pedro, rei de Portugal e Algarves, preocupadíssimo com a “inundação de gente tão ociosa e prejudicial por sua vida e costumes, andando armados para melhor cometerem seus assaltos”, decidiu determinar, por decreto, que, além do degredo para a África, eles seriam também banidos para o Brasil: “Tendo resoluto que os ciganos e ciganas se pratique a lei, assim nesta corte, como nas mais terras do Reino; com declaração que os anos que a mesma lei lhes impõem para África, sejam para o Maranhão, e que os Ministros que assim o não executarem, lhes seja dado em culpa para serem castigados, conforme o dolo e omissão que sobre este particular tiverem.” – Decreto em que se mandou substituir o exílio da África para o Maranhão, in F. A. Coelho, Os Ciganos de Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1892.
Esta resolução real foi estabelecida em 1686, mas a história dos ciganos no Brasil teve início realmente quando, em 1574, durante o reinado de D. Sebastião, o cigano João Torres veio degredado para o Brasil com sua mulher e filhos por cinco anos.
A Metrópole despejou seus “criminosos” nas terras coloniais ultramarinas, particularmente no Brasil e na África. A colônia, por sua vez, mandou seus elementos indesejáveis e “gentes inúteis” para outras capitanias e continentes.
Em Minas Gerais, a presença cigana é sentida a partir de 1718, quando chegam ciganos vindos da Bahia, para onde haviam sido deportados de Portugal. Na época em que começaram a chegar em Minas Gerais havia neste estado um movimento muito importante com objetivos de progresso e ideais de independência. Como essas ideias não estavam consoantes com os ciganos, eles não eram bem vistos, sendo considerados inúteis à sociedade, vândalos, corruptores de costumes. Só começaram a ser vistos de outra forma quando passaram a comerciar escravos pelo interior do país. Esta atividade proporcionou uma maior aceitação e mesmo valorização social dos ciganos, já que passaram a exercer um trabalho reconhecido como útil por grande parte da população. Alguns ciganos tornaram-se ilustres, patrocinando até festividades na Corte.
No Rio de Janeiro, nos anos de 1700, os ciganos se estabeleciam nas cercanias do Campo de Santana. Suas pequenas casas, guarnecidas de esteiras ou rótulas de taquara, cercam o campo, dando origem à chamada Rua dos Ciganos (Rua da Constituição). Os ciganos festejavam Santana, a quem chamavam de Cigana Velha.
Nas últimas décadas, pesquisadores concluíram que os ciganos no Brasil estão divididos em dois grandes grupos: Rom e Calon.
O grupo Rom é dividido em vários subgrupos, como os Kalderash, Matchuara, Lovara e Tchurara.
Do grupo Calon, cuja língua é o caló, fazem parte os ciganos que vieram de Portugal e Espanha para o Brasil. São encontrados em maior número no nordeste, Minas e parte de São Paulo.
A Constituição de 1988 quase teve um artigo específico para os ciganos estabelecendo o respeito à minoria cigana. O então deputado Antonio Mariz propôs emenda proibindo a discriminação étnica ou racial.
Mesmo assim, os ciganos estão abrangidos pela grande proteção dada pelos artigos 215 e 216 da Constituição, que manda preservar, proteger e respeitar o patrimônio cultural brasileiro, o qual é constituído pelos modos de ser, viver, se expressar, e produzir de todos os segmentos étnicos que formam o processo civilizatório nacional.
Como toda minoria étnica(religiosa ou linguística), os ciganos têm direitos importantes. O primeiro deles é o direito de não ser objeto de discriminação.
Afinal, um povo fascinante, amante da natureza, que sabe respeitar suas crianças e seus anciãos, que preserva suas origens e tradições apesar de toda perseguição e barbaridades sofridas, merece ser respeitado.
Não adianta amarmos nossas entidades ciganas, promovermos festas em sua homenagem, se não tivermos um mínimo de respeito e consideração por sua raça.
Optchá!
SEXTA, 22 MAIO 2015 16:21 CNBB
Por ocasião do Dia Nacional dos Ciganos, celebrado no domingo, 24 de maio, a Pastoral dos Nômades da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota saudando o povo cigano e os agentes de pastoral "que dão suas vidas para levar Cristo" àqueles que sofrem com a invisibilidade perante a sociedade. O texto, assinado pelo bispo de Eunápolis (BA) e referencial da Pastoral, dom José Edson Santana Oliveira, convida para a reflexão sobre a realidade dos nômades do Brasil e propõe a superação das relações de suspeita, preconceito e desconfiança.
Leia na íntegra:
24 de maio: Dia Nacional dos Ciganos
A Pastoral dos Nômades do Brasil parabeniza todo o povo cigano pelo seu dia! Agradece também a todos os seus Agentes de Pastoral que dão suas vidas para levar Cristo a estes nossos irmãos e irmãs “invisíveis”.
Hoje é dia de festejarmos, de nos alegrarmos por esta data especial! Não obstante, é também dia de convidarmos os ciganos e não-ciganos, dentro e fora da Igreja, a refletir sobre a realidade cigana no Brasil.
A Igreja no Brasil, através de suas diretrizes, nos convida a apoiar as iniciativas de inclusão social e os direitos das minorias (DGAE 117). Diante disso, unamos nossa voz aos milhares de ciganos e ciganas que lutam em defesa de seus direitos, principalmente o direito de ir e vir e permanecer; o direito da inviolabilidade de suas barracas e a preservação de sua cultura.
A Pastoral dos Nômades coloca-se contra toda forma de discriminação e racismo contra o povo cigano. Povo este que há muito vem contribuindo com valores abandonados pelos não-ciganos, como, por exemplo, a valorização da cultura, não se deixando levar por modismos, além da valorização da criança e do idoso, tendo sempre a família como base de toda sua ação.
Aproveitando esta data, convidamos a todos a darmos um passo mais significativo em nossa ação evangelizadora: sairmos de uma relação de suspeita e entrarmos numa relação de confiança. E, para superarmos esta desconfiança, precisamos de gestos concretos de solidariedade cotidianamente.
Que o Bem-Aventurado Zeferino, cigano e mártir, interceda a Deus por cada um de nós, para que abramos nossos corações e, com ele aberto, acolhamos o cigano como o irmão e a irmã que Deus nos enviou para caminharmos juntos rumo à Terra Prometida, onde viveremos como uma grande família e onde teremos vida e vida em abundância.
Dom José Edson Santa Oliveira
Bispo da Diocese de Eunápolis – BA
Referencial da Pastoral dos Nômades
“Não construímos casas para habitar nelas, nem possuímos vinhas, nem campos de sementeiras, vivendo debaixo de tendas...” (Jeremias 35,9-10).
Vivemos em um mundo onde as grandes referências de nossa vida tem sido deixadas de lado, referenciais como a família, a partilha, à indissolubilidade do matrimônio, a religiosidade e outros. Essa ausência dos valores e dos referenciais tem tornado a sociedade frágil e facilmente direcionada para caminhos que não nos leva para experiência de vida com dignidade.
Esses dias fazendo uma reflexão sobre os valores modernos e a vida dos ciganos percebi que temos muito que aprender com esta cultura que, ainda mantém alguns valores essências para nós, como por exemplo:
A partilha: Em um acampamento cigano consegue-se se fazer a experiência da partilha, que foi um pedido feito desde dos tempos dos primeiros cristãos, "Os cristãos tinham tudo em comum" (At. 2, 44). Em um acampamento cigano uma família jamais passa necessidade, pois o pouco que se tem é divido entre todos;
Valor das crianças: A criança é considerada como Benção de Deus para a família. Não conheço uma criança cigana que tenha sido deixada em um orfanato. As famílias ciganas são numerosas, pois não usam nenhum tipo de contraceptivos e a pessoa é valorizada desde a fecundação até a morte natural. Na tradição cigana, a pessoa nunca é descartada como um objeto frio e sem valor. A criança é futuro do grupo e desde cedo ela é formada para isso, é tratada como um valor em si, para levar adiante os valores fundamentais da vida;
Valor do idoso: O idoso é considerado como o portador da experiência. Poderíamos dizer que como se fosse uma biblioteca ambulante, por isso nada vai adiante em um acampamento cigano, sem antes ser ouvida a opinião do ancião, sempre a última palavra é dele. Em todos estes, mais de 40 anos, de trabalho pastoral com os ciganos nunca encontrei um cigano em um asilo de idosos;
Valor da Família: Os ciganos vivem em função da família, não conseguem viver fora dela, toda a sua vida e os seus negócios, são em função de que a família possa viver com dignidade. Por isso, os casamentos são bonitos, bem preparados e com um fato muito importante, são indissolúveis. O casamento é visto como o início de uma nova família sobre as Bênçãos de Deus;
Valor da religiosidade: Os ciganos, em sua maioria são religiosos, dificilmente você encontra uma criança cigana que não seja batizada e um casal que não seja casado na Igreja. É muito comum que nas barracas ou nas casas haja um oratório com um santo de devoção. O que me chama a atenção é a confiança que o povo cigano tem em Deus, pois tudo da vida deles é entregue a Deus; a proteção da barraca ou da casa em que vivem. Geralmente expostos ao tempo e ao vento, a chuva; o alimento é conquista para aquele dia, outro dia confiam que Deus vai providenciar. É importante valorizarmos este abandono total nas mãos de Deus e a confiança na sua Divina Providência.
Estes são alguns exemplos, dos vários que podemos pegar do povo cigano, povo que tem uma cultura milenar, e que mesmo sendo excluído, tornado invisível, consegue manter valores que a nossa sociedade moderna tem abandonado, por isso consegue manter a sua cultura forte, ao contrário da sociedade atual que cada dia tem vivido mais uma realidade de desmantelamento de valores essenciais para o bem de todos.
Somos eternos nômades, em busca de Deus.
Dom José Edson Santana Oliveira
Bispo diocesano de Eunápolis
Costa do descobrimento
Referencial da Pastoral dos Nômades
O primeiro passo para combater a hostilidade contra os ciganos é reconhecê-lo como tal, argumenta Martin Demirovski de ENAR, a Rede Europeia contra o Racismo, em um chamado sobre as instituições europeias renovados para tornar a luta contra este fenómeno crescente na Europa uma prioridade.
Martin Demirovski é um especialista de defesa na Rede Europeia Contra o Racismo (ENAR).
30/06/2014 - De 2004 a 2009, o Parlamento Europeu desempenhou um papel fundamental em que convida a Comissão Europeia a desenvolver uma estratégia europeia para os Roma (ciganos), para garantir a inclusão do maior grupo minoritário da Europa. Em resposta a este apelo visionário, em 2010, a Comissão Europeia e o Conselho da União Europeia adaptou um quadro europeu para as estratégias nacionais de integração dos ciganos. No entanto, embora exista o “trabalho no papel” é ainda necessário assegurar a implementação destas estratégias, especialmente em um contexto de aumento da violência racista e discurso voltado para o Roma (ciganos). O linchamento recente de um adolescente cigano na França é apenas o último de muitos desses incidentes de violência em toda a Europa.
Isso vai exigir debate contínuo e aberto entre Roma (ciganos) e as partes interessadas não ciganas, e as instituições europeias, sobre a forma como a pressão sobre os Estados membros da UE serão garantidos e terá de ser uma prioridade para a nova Comissão Europeia e do Parlamento Europeu, 2014-2019.
É fundamental que o próximo Parlamento Europeu continue a ser "uma força motriz" na inclusão dos ciganos na UE. Apesar do aumento em assentos racistas e xenófobos (Xenofobia - aversão a pessoa ou coisas estrangeiras), os principais partidos no Parlamento Europeu terão de falar a mesma língua em defesa dos valores fundamentais da UE da igualdade e da proteção dos direitos fundamentais. Só uma visão coerente irá garantir que ciganos se tornem cidadãos iguais da Europa.
Infelizmente, como Aidan McGarry, autor do artigo "O dilema da política de Roma da União Europeia", ciganos são tratados como um"grupo social com um problema social específico" nas políticas ciganas europeias atuais, sem ter em conta o fato de que o racismo contra o cigano é um fator crucial. A falta de respeito por uma "política de reconhecimento" põe em risco, assim, a futura implementação de políticas de ciganos da UE. Na verdade, o combate à discriminação racial / hostilidade contra os ciganos é uma pré-condição para a inclusão de sucesso dos ciganos na Europa, como ativistas ciganos têm sublinhado, e está atualmente em falta nas estratégias nacionais de integração dos ciganos.
Com um novo Parlamento Europeu e da Comissão Europeia a partir de julho, há uma oportunidade de ouro pela frente para repensar e, se necessário, alterar as políticas de inclusão cigana.
Um passo para frente seria fazer da luta contra a discriminação / hostilidade contra os ciganos se tornar um pilar adicional nas políticas europeias existentes ciganas. Para alcançar isso, o Parlamento Europeu poderia, por exemplo, incluir a tarefa Agência Europeia dos Direitos Fundamentais para conduzir pesquisas a nível europeu sobre hostilidade contra os ciganos e publicar um relatório em que se chamaria isso de forma específica de racismo pelo seu verdadeiro nome. Se o relatório apresentar resultados alarmantes, o Parlamento Europeu deverá dar uma oportunidade política para agir - agir de maneira que irá reconhecer hostilidade contra os ciganos e pedir à Comissão para trabalhar na prevenção deste fenômeno. Além disso, a dinâmica atual do Quadro de Roma (ciganos) da UE, o Parlamento Europeu terá um canal oficial e permanente de comunicação com as ONGs envolvidas na implementação das estratégias nacionais de integração dos ciganos. Só através do diálogo estreito e contínuo com as ONGs e outras agências, o EP vai ser capaz de fazer avançar a inclusão dos ciganos na UE.
O reconhecimento formal da hostilidade contra os ciganos a nível da UE iria enviar uma mensagem política forte, como foi feito anteriormente com o reconhecimento do antissemitismo na Europa - especialmente em um contexto de crescente influência dos discursos racistas e xenófobos.
Por Emma Batha
Londres, 28/05/2014 - Os líderes europeus devem tomar medidas para acabar com a situação de cerca de 600.000 pessoas apátridas que estão presas em um limbo legal de pesadelo dentro de suas fronteiras. Os ativistas lançaram nesta quarta-feira uma petição para que os governos registrem a apatridia nos livros de história.
Um apátrida é alguém que não é reconhecido como um cidadão de qualquer país e, consequentemente, tem negados os seus direitos básicos. Os apátridas (os ciganos são considerados apátridas) têm pouco ou nenhum acesso à educação, saúde, empregos formais e alojamento. Eles não podem viajar para o exterior, comprar propriedades, abrir uma conta bancária, obter uma carta de condução ou até mesmo se casar. Em muitos casos, os seus filhos vão herdar sua apatridia.
Como resultado, muitos vivem na miséria, separados de seus entes queridos e vulneráveis à exploração e detenção.
"É comum dizer que as pessoas apátridas não têm o direito a ter direitos", disse Chris Nash, coordenador da Rede Europeia dos Apátridas (ENS), que está lançando a petição como parte de uma campanha mais ampla. "Precisamos trazer fantasmas legais da Europa para fora das sombras e garantir que as pessoas apátridas sejam tratadas com respeito e dignidade."
Pastoral dos Nômades do Brasil
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24 de maio, dia nacional dos Ciganos.
Quem são e onde vivem os Ciganos? Em sua maioria são nômades dispersos por todo mundo. Pouco conhecidos, porém com uma atitude existencial profícua. São rejeitados, maltratados pelas estruturas sociais, tornando-os excluídos. São mais emoção do que razão, são religiosos, vivem unidos, felizes e livres, com a certeza que são amados por Deus.
Antes viviam dedicados ao comércio de animais e materiais de fácil transporte. Depois dos anos 80, dedicaram-se mais ao comércio de carros, que os levou a estarem mais próximos das cidades. Por isso tiveram uma maior possibilidade de relacionar-se com a sociedade, as crianças começaram a frequentar a escola e novos costumes se introduziram nos grupos, sem perder sua cultura própria, cada um buscando o bem estar de sua família e grupo.
Graças aos Santuários os Ciganos renovam sua identificação com a Igreja Católica. A Pastoral dos Nômades tem se empenhado heroicamente em poder acolhê-los. Aproveito para agradecer a todos os Agentes de Pastoral que, voluntariamente, dedicam-se a estar perto desse quase um milhão de irmãos Ciganos que vivem no Brasil, na luta pelos seus direitos básicos, sempre no espírito de Cristo, mostrando que mesmo sendo ciganos são cidadãos brasileiros portadores de todos os direitos como qualquer outro cidadão brasileiro.
Neste dia consagrado a Nossa Senhora, sob o título de Auxiliadora, à Santa Sara – padroeira dos ciganos - e dia nacional dos Ciganos, vem o nosso apelo: os Ciganos tem o direito de receber a Palavra de Deus e os Sacramentos, respeitando sua cultura e enriquecendo-nos com ela. Tem o direito a serem respeitados como filhos de Deus. Tem o direito a serem acolhidos como brasileiros que amam a sua pátria e estarem livres de todo o tipo de preconceito e exclusão. Esperamos que os acolham como irmãos, que querem escutar e viver a “cultura do encontro”, como nos anima tanto o Papa Francisco.
"A base mais eficaz para restabelecer a dignidade humana é anunciar o Evangelho de Cristo nos campos e nas cidades, pois Jesus quer derramar por todo lado vida em abundância"
Que Jesus caminhante abençoe e proteja todos os ciganos de nosso Brasil.
Feliz dia dos ciganos!
Dom José Edson Santana Oliveira - Bispo de Eunápolis
Presidente da Pastoral dos Nômades do Brasil
Barcelona, 6 de agosto de 2013
Excma. Sra. Doña EDIT BUCSI SZABÓ
Embajadora de la República de Hungría en España
Calle Fortuny, 6, 4º, izq..
28010 Madrid
Excma. Sra.:
Hemos tendido conocimiento de la gravísima situación por la que atraviesan miles de ciudadanos de su país, mayoritariamente pertenecientes a la comunidad gitana, habitantes de la ciudad de OZD, a los que se les ha suprimido el suministro de agua potable.
Como usted bien sabe, la ciudad de OZD, perteneciente al condado de Borsod-Abaúj-Zemplén, tiene una población de más de 35.000 habitantes de los que aproximadamente un tercio son gitanos. Estamos hablando, pues, de muchos miles de personas.
El alcalde la ciudad, el señor Mihály Benedek, ha ordenado el cierre de las 27 bombas que proporcionaban agua a más de 500 familias gitanas que se han visto privadas de toda posibilidad de acceder al agua potable indispensable para la supervivencia. Igualmente hemos tenido conocimiento de que las autoridades han ordenado bajar la presión de otros 62 grifos públicos de tal forma que el hilo de agua que suministran ocasiona que se necesiten muchos minutos para llenar una simple botella.
Señora Embajadora, quienes más sufren las consecuencias de esta restricción son los más pobres, en este caso los gitanos, que no tienen agua corriente en sus casas y que se ven obligados a hacer largas colas ante esos misérrimos y debilitados grifos. El alcalde dice que no tiene dinero para pagar la factura del agua de las fuentes públicas y en consecuencia deja tan solo dos grifos, ─los más cercanos al lugar donde viven los gitanos─ que están a una distancia de más de un kilómetro y medio de sus casas. Estas criaturas, señora embajadora, se pasan el día yendo y viniendo desde la fuente a sus casas bajo un sol abrasador. La temperatura estos días en OZD ha rondado los 40 grados.
La Comisión Permanente de la Junta Directiva de la Unión Romani española, reunida con carácter de urgencia, quiere reclamar de S.E. la intermediación ante el Ayuntamiento de OZD, y ante el Gobierno de su país para que se ponga fin de forma inmediata a esta insostenible situación. Es inconcebible que en la Europa de los Ciudadanos haya quien tenga en peligro su higiene, su salud y en definitiva su vida porque el Ayuntamiento determine cerrar el suministro de agua potable arguyendo que no tiene dinero para pagar la factura. Estamos seguros de que a usted, como a nosotros, se le ocurrirá suprimir otros gastos menos vitales que los originados por garantizar el agua a los más pobres y marginados de su entrañable país.
Traslade nuestra voz angustiada y exigente, señora Embajadora, a su Gobierno. Y con ella nuestro respeto al pueblo húngaro donde viven y conviven casi un millón de ciudadanos Rromá.
Atentamente,
Juan de Dios Ramírez-Heredia
Presidente de Unión Romani Española
Vicepresidente deUnión Romani Internacional
Um altar é sempre um elemento de ligação entre o homem e a divindade, um local considerado “mágico”. Pode-se ter um altar de anjos, de santos, de Mestres Ascensionados, da chama violeta ou qualquer outra, de cristais, etc. O altar deve estar sempre de frente para o leste, o ponto onde nasce o sol.
Os quatro elementos (água, ar, terra e fogo) são imprescindíveis num altar e podem ser assim representados:
Água: Deve estar numa taça de vidro transparente no canto superior direito. A água mexe com as emoções e com as águas internas do organismo; está ligada ao plano emocional e aos relacionamentos e, por isso, deve estar sempre limpa. Atua como um catalizador de energias, e quando estiver turva deverá ser jogada em água corrente e trocada por água limpa.
Ar: Representado pelo incenso ou essência, que poderá ser da fragrância que mais lhe agradar e estar colocado em qualquer lugar no altar. O aroma do incenso ou essência facilita a conexão com os silfos, elfos e fadas, elementais do ar. Através da fumaça ou aroma podemos invocá-los e utilizar sua força mágica, daí a importância dos defumadores. O ar é o elemento responsável pelo trabalho intelectual e artístico no homem, pois age em conformidade com o plano mental.
Terra: Alguns cristais como o cristal de quartzo branco e a ametista poderão fazer parte do altar. As pedras (preciosas ou não), os metais e os vegetais simbolizam o elemento terra. O cristal de quartzo branco é a forma mais pura de energia no estado sólido e seus átomos estão sempre em perfeito equilíbrio; por isso, permite uma excelente troca energética tanto com o ser humano como com a divindade. A ametista (drusa, rolada ou ponta) é um elemento transmutador, transformando sempre tudo o que necessita ser transformado para um perfeito equilíbrio harmônico.
A terra dá forma à matéria e recebe as descargas energéticas da natureza, depurando-as para que retornem transformadas. Ajuda o homem a lidar com o concreto, o material.
Fogo: A vela simboliza o elemento fogo. Pode ser de qualquer cor, dependendo da finalidade com que será usada, e deverá estar no canto superior esquerdo. O fogo representa o início e o fim da existência do homem. Por limpar e transmutar as energias negativas é usado em todo ritual de magia em forma de vela, carvão queimando, pira ou fogueira. Suas chamas são ideais para concentração, viagens astrais, meditações e o desenvolvimento da intuição.
Se estivermos tratando de um altar cigano será imprescindível também uma imagem de Santa Sara Kali, por ser a santa protetora do povo cigano, e de Na. Sa. Aparecida. Pode-se incluir alguma outra imagem do(a) cigano(a) de sua preferência.
Outro elemento importante é o punhal, que não é necessariamente um punhal de corte, mas um elemento que, apontado para a porta de entrada do compartimento, tem por finalidade cortar alguma energia intrusa que possa chegar. Pode ser colocado em cima da taça ou em qualquer outro local.
Além desses elementos, que são básicos, qualquer outra coisa que seja sentida por intuição, pode fazer parte do altar: baralho, leque, adornos, lenços, baú, espelho, etc. Também se pode colocar frutas não ácidas, que serão trocadas quando necessário, e é sempre de bom tom ter uma jarra com flores. Além da taça de água pode ser oferecida também uma taça com vinho.
Quando precisar limpar seu altar, faça-o no quarto dia de lua crescente ou cheia, de preferência, mas nunca na fase minguante da lua.
Namastê!
A Bandeira foi instituída como símbolo internacional de todos os ciganos do mundo no ano de 1971, pela International Gypsy Committee Organized, no First World Romani Congress( primeiro congresso mundial cigano), realizado em Londres.
A roda vermelha no centro simboliza a vida, o caminho a percorrer e o já percorrido, a tradição e a evolução do conhecimento. A sobreposição ao azul e ao verde representa a força do fogo, da transformação e o movimento.
O azul representa os valores espirituais, o céu, as cabeças, a paz e a ligação do consciente com os mundos superiores. Significa a libertação e a liberdade.
O verde representa a mãe natureza, a terra, as matas nas quais o povo cigano abriu caminhos. Representa o sentimento de gratidão e respeito pela terra.
“Hoje já se tem no Brasil a exemplo da Europa e do mundo o Instituto de Defesa dos Direitos da Etnia Cigana entre outros, que pretende agregar os Irmãos ciganos e não ciganos na compreensão de se fazer valer os direitos e garantias do Povo Cigano, desejando combater pacifica e legalmente a discriminação, preconceitos e assim por diante. Bem como promover uma melhor comunicação e conhecimento a respeito, reivindicando benefícios e direitos em geral”.
Uma das maneiras de os ciganos se manterem unidos, vivos, com suas tradições preservadas é o idioma universalmente falado por eles, o romanê ou rumanez, que é uma linguagem própria e exclusiva. Esta linguagem é transmitida oralmente, pois não tem grafia, e é ua forma de identificação entre ciganos já que é expressamente proibido ensiná-la a um gadjô.
Em geral, as crianças freqüentam a escola por um curto período de tempo, apenas o suficiente para aprender a ler e escrever e a fazer as operações matemáticas básicas. O estudo além do primeiro grau é desaconselhado, pois os mais velhos temem que elas acabem ficando confusas pelo choque cultural, tendo seus costumes tradicionais confrontados com os costumes locais, e com isso se desgarrem de suas raízes, passando a se envergonhar de seu povo.
Os ciganos são muito orgulhosos de suas origens, de sua maneira de viver, de seus princípios e valores e uma das coisas que mais entristece um cigano é ver um outro se envergonhar de ser cigano. A vergonha e a traição são consideradas pecados passíveis de penalidades sentenciadas por seus Tribunais de Justiça.
Os Tribunais de Justiça são chamados KRISROMANY, e são formados pelos homens mais velhos (BARÔ) do grupo. É totalmente falado em romanê e a presença das mulheres é terminantemente proibida. O julgamento pelo KRISROMANY não exime o réu da justiça do país local, caso o delito se enquadre em leis universais ou particulares do país onde os ciganos estejam. O representante do grupo no KRISROMANY, a quem cabe o voto de Minerva, é o KAKU, seu mestre e conselheiro. Os ciganos não possuem títulos de nobreza ou monárquicos como reis, rainhas, imperadores, uma vez que não possuem terras para governar. As decisões importantes cabem sempre aos barôs e ao krisromany.
Os ciganos não costumam usar a palavra tribo para denominar seus grupos, pois não possuem chefes equivalentes aos caciques indígenas. Normalmente usam a palavra clã para denominar seus grupos, pois na verdade são famílias que vivem e viajam unidas como uma só família. “Os ciganos também não possuem pajés ou curandeiros, ou ainda um feiticeiro em particular, pois cada cigano e cigana tem seus talentos para a magia, possui dons místicos, sendo, portanto um feiticeiro em si mesmo. Todo povo cigano se considera portador de virtudes mágicas doadas por Deus como patrimônio de berço, cabendo a cada um desenvolver e aprimorar seus dons divinos da melhor e mais adequada maneira.” – Rosely M. Schepis, em Ciganos – Os Filhos Mágicos da Natureza.
A maior parte dos grupos ciganos acredita num Deus único, DOU-LA ou BEL, em eterna luta contra o demônio, DENG. Os ciganos cultuam os antepassados, temem o mau-olhado, crêem na reencarnação e na força do destino, BAJI.
A família é a base da sua organização social, e os ciganos vêem cada família como uma célula-mãe, que contribui para formar um grupo. A união de diversas famílias forma o clã. O comando da família é exercido pelo homem, que é o líder e a quem compete a proteção, a segurança e o sustento da família. Exerce as tarefas mais pesadas como armar e ser responsável pela manutenção da tenda, rachar a lenha, consertar a carroça, ferrar os cavalos. É ele quem resolve as pendências, acerta o casamento dos filhos, decide o destino das viagens e se reúne no conselho para deliberar sobre assuntos abrangentes e comuns ao clã.
A figura feminina tem sua importância na leitura da sorte, já que nenhum cigano deixa de consultar as avós, tias e mães antes de resolver seus problemas ou os do grupo e, pela tradição cigana, apenas a mulher lida com os oráculos. Está sempre na retaguarda do marido e disposta a servi-lo prontamente até nas futilidades, com total discrição e subserviência. Ela cuida da casa, é responsável pela educação dos filhos, ajuda as outras mulheres, serve e cuida dos sogros como se fossem seus pais. Não discute, opina raramente e em particular e acalma os ânimos do marido se este fica enfurecido com algo. Jamais mente ao marido, não oculta fatos e procura ter um comportamento exemplar, defendendo-o até nas situações em que ele não tem razão. É muito importante que saiba cozinhar, cuidar da casa, dançar, dirigir as cerimônias rituais e ler a sorte. Esses atributos são essenciais para que as jovens sejam escolhidas como noivas. Quem escolhe a noiva é o pai do noivo, que paga uma espécie de dote ao pai da jovem.
As mulheres não costumam cortar os cabelos, pois crêem que neles está uma grande quantidade de força. Também andam freqüentemente descalças para descarregar na terra a energia negativa e ficarem receptivas às vibrações positivas. As mulheres casadas usam um lenço na cabeça, o DIKLO, para diferenciá-las das solteiras, que podem enfeitar os cabelos com flores ou tiaras, mas não usam lenço.
Os ciganos formam casais legítimos unidos pelo matrimônio, não podendo viver amasiados ou aceitarem concubinato. Vivem juntos até a morte, e só acontece uma separação se assim for decidido pelo KRISROMANY. Não trocam nenhum tipo de carinho, que possa ser entendido como intimidade, em público, como uma atitude de respeito à comunidade e, especialmente, por um grande temor das más línguas e comentários. Respeitam o lar como recinto sagrado e não discutem na frente dos outros, principalmente dos filhos.
O celibato, a infidelidade e o homossexualismo são totalmente intolerados. A mulher cigana não se prostitui.
As crianças representam o maior tesouro da nação universal cigana; elas garantem a continuidade, sobrevivência e perpetuação do povo. É a partir do nascimento do primeiro filho que o jovem pai ganha prestígio, responsabilidades e privilégios iguais aos de qualquer cigano mais velho. A nova mãe deixa de ser bori, e ganha maior autoridade. A preocupação com a criança começa ainda no período de gravidez, quando a jovem grávida tem prioridade na alimentação, não deve ter contato com magia, coisas ou imagens feias e noticias ruins, e recebe cuidados especiais com a beleza.
Assim como os ciganos amam suas crianças e lhes dedicam total carinho e proteção, também nunca abandonam seus velhos, pois sabem que são os grandes mestres das gerações futuras.
Apesar de se declararem fiéis seguidores da fé católica, os ciganos costumavam adotar e ainda adotam o costume de se converterem à religião dominante do país onde fixam suas moradias.
Na verdade, assim como fizeram os negros que aqui chegaram na condição de escravos, os ciganos procuraram fundir suas crenças e divindades com outras doutrinas, criando um sistema religioso parecido com o católico com algumas pequenas diferenças.
Possuem um grande respeito pela Semana Santa, acreditam na reencarnação, nos espíritos habitantes da natureza, os elementais, a quem fazem oferendas, na roda dos círculos cármicos, e na ausência de um Paraíso e de um Inferno determinados como o destino final de toda alma vivente na face da Terra após a morte do corpo físico.
Crêem em um só Deus a quem chamam DOU-LA ou BEL, em eterna luta contra o demônio, DENG. Cultuam os antepassados, temem o mau-olhado, e acreditam na força de BAJI, o destino.
Conhecem e respeitam a lei de causa e efeito, da ação e reação, assumindo suas dores, dificuldades e sofrimentos como geradas por eles mesmos, nesta ou em outra existência.
SANTA SARA KALI:
Não se conhece a razão exata que levou o povo cigano a eleger Santa Sara como a sua padroeira, mas sabe-se que é a santa mais venerada para eles, a quem dirigem suas súplicas e apelos, além de oferecerem festas e rituais de agradecimento pelas graças recebidas.
Considerada pela Igreja Católica como uma santa de culto local, pois nunca passou pelos processos regulares de canonização, Sara Kali está ligada à história das tradições cristãs da Idade Média e ao culto às virgens negras, santidades femininas de pele negra veneradas pelos fiéis católicos em igrejas, que posteriormente se transformaram em locais de peregrinação (Notre Dame de Montserrat; de la Negrette; de Liesse; de Marseille; e outras) principalmente na Espanha e França.
Várias lendas existem sobre Santa Sara Kali. Uma delas conta que, com as perseguições sofridas pelos seguidores de Jesus, alguns de seus discípulos foram colocados numa barca, sem provisões e sem remos, ao sabor do destino. Entre eles estavam Maria Salomé (mãe dos apóstolos Tiago e João), Maria Jacobé (irmã de Maria), Lázaro, Marta, Maria Madalena, Maximino e Sara, uma negra, serva de Maria Jacobé.
A embarcação teria chegado ao sul da atual França e aportado em Petit-Rhône, situada em águas do Mediterrâneo. As mulheres teriam ficado no local da chegada, em companhia de Sara, enquanto os homens teriam seguido viagem, continuando sua evangelização. Antes da partida, ergueram um rústico oratório em homenagem à Virgem Maria.
Atualmente, séculos mais tarde, existe nesse mesmo local, na cidade de Camargue, a Igreja de Notre-Dame-de-la-Mer, Nossa senhora do Mar, que abriga as relíquias de Maria Jacobé, Maria Salomé e Sara. Esta igreja é um dos locais por onde passam os peregrinos do Caminho de Santiago de Campostela, pois faz parte de sua rota de peregrinação.
Em 1449, quando essas relíquias foram descobertas, começou uma peregrinação à Igreja de Nossa Senhora do Mar que acontece até hoje, nos dias 24 e 25 de maio. Nesses dias, os ciganos de todo mundo reúnem-se para festejar sua santa padroeira.
Outra lenda conta que Sara já habitava Camargue quando a embarcação chegou e que teria se dedicado a cuidar das mulheres.
Outra ainda diz que Sara teria sido uma sacerdotisa do deus Mitra (deus da religião védica indiana, cultuado por volta de 1400 A.C, que assegurava o equilíbrio e a ordem no cosmo) ou uma divindade feminina de origem celta ligada a Terra. Outras narram que ela foi uma rainha egípcia ou africana, o que explicaria sua pele negra.
Pelo fato de Sara possuir a pele negra, os ciganos brasileiros adoram também Nossa Senhora Aparecida.
Em março de 1990 a imagem de Santa Sara Kali foi descoberta pelo casal de artistas sacros Neyde e José Marçal. Até aquela data o brasileiro não tinha a menor idéia de quem era Santa Sara Kali, muito menos se ela era ou não a padroeira dos ciganos.
Graças à Neyde Marçal sua imagem tornou-se conhecida por todos nós, amantes da cultura cigana, e suas lendas e oração puderam ser divulgadas.
A integração dos ciganos com a natureza é permanente, obrigatória sob um ponto de vista e imprescindível sob outro. Obrigatória pela imposição da sua vida andarilha, e imprescindível porque seria praticamente impossível armarem suas tendas nas praças ou ruas das aldeias ou cidades.
Existe idéia enganosa de que os ciganos temem as águas do mar, o que é uma perfeita bobagem. Eles viajaram por mar para outros países, e muitos deles viviam em embarcações como condenados colocando a força de seus braços nos remos, que moviam esses barcos. A verdade é que normalmente armavam suas tendas próximas a locais de água doce – cachoeiras, rios – pela sua serventia para beber, lavar, cozinhar, etc. No Brasil, os ciganos reverenciam Iemanjá, a rainha do mar, e mantêm o hábito de lhe levar flores e presentes, velas, champanhe, no dia 31 de dezembro, pedindo bênçãos e proteção. Muitos trabalhos de magia são feitos na areia do mar e outros entregues nas águas do mar para que Iemanjá tome conta.
A natureza é a generosa doadora da própria sobrevivência cigana. Nela o povo busca os mais variados tipos de alimentos e a água, líquido precioso da sustentação da vida. Todavia, o povo cigano não entende a natureza somente como a doadora dos elementos fundamentais como alimentos e água, mas como uma fonte magnífica e inesgotável de energia. Aí começa o lado mágico da natureza cigana, o fundamento etéreo da vida, o lado abstrato muitas vezes não compreendido racionalmente pelos próprios ciganos. Eles entendem que a natureza é que fornece a vitalidade, o frescor da vida renovada a cada dia do ponto de vista da troca energética. Do céu, do Sol, dos astros, da Lua em suas diferentes fases, desce a energia positiva de Deus, a força divina que mantém o homem em pé, apto ao trabalho, às caminhadas, a gerar filhos, e a todos os tipos de alegrias, sensações,emoções e sentimentos. A terra, que pisam propositadamente sem sapatos, recebe sem recusas e sempre aberta todas as energias negativas, os temores, as angústias, as tristezas e os desconsolos de um povo perseguido. A terra abençoada, que recebe sem reclamar os restos daqueles que dormem nos braços da morte, transformando-os em novas formas de vida.
Os ciganos não são politeístas. Adoram a um só Deus – Dou-la – mas vêem as naturais manifestações da natureza como divindades. Além dos astros do céu, abençoam e pedem bênçãos à chuva, às águas dos rios, das cascatas, riachos, cachoeiras, às árvores das matas, respeitando os trovões, a força dos raios e o fogo, que aquece e purifica. Admiram os pássaros, as flores, os animais e toda forma de vida que brota da natureza, pois entendem que tudo e todos são maneiras de Deus se revelar aos homens. Compreendem que o ar é energia vital, o elemento vivificador da vida e oram para que as ventanias, tufões e vendavais não destruam seus acampamentos e seus lares-tendas.
O povo cigano respeita e reverencia os quatro elementos – terra, água, ar e fogo –cultuando os elementais ligados a esses elementos. Também acredita em presságios e avisos provenientes da natureza e de seus elementos. Sabem quando se aproxima uma tempestade, um vento mais forte, uma nevasca ou um sol de rachar. Reconhecem quando há água por perto, ou a viagem prosseguirá em terreno árido e seco. Pressentem os perigos das matas pelo movimento dos pássaros e outros sons peculiares da natureza. É sábio o povo que sabe ouvir a natureza, convivendo com ela pacífica e respeitosamente, e nisto o povo cigano é mestre.
As ciganas se valem de inúmeras formas de adivinhação, como a análise da borra de café, resíduos de chá deixados no fundo de uma xícara, da queda de gravetos ou pequenas pedras no chão, na maneira como gotas de azeite se distribuem num prato com água, no jogo de moedas, em como fica a água de uma bacia exposta à Lua cheia com uma moeda depositada no fundo, na maneira como queima uma vela (tipo da chama, se a vela “chora” ou não e os restos da mesma), porém suas duas grandes armas de leitura do destino são a leitura das linhas da mão – a quiromancia – e a apresentação das cartas do baralho, associando a estas a visão mágica pela bola de cristal.
As velhas ciganas conhecem os efeitos medicamentosos ocultos nas plantas, e preparam com elas, unguentos, pomadas, pós, remédios, xaropes, banhos, inalações e chás. Conhecem também inúmeras rezas e invocações que complementam o trabalho das ervas e fazem parte de seus tratamentos de cura.
O preparo dos alimentos também está incluído na magia cigana, por isso existem algumas regras em sua cozinha. As meninas ficam sempre por perto de suas mães para aprenderem desde cedo a cozinhar. A comida é mexida na panela com colheres de pau para que tenha mais sabor e energia, a energia da madeira. O movimento de mexer a comida nas panelas é sempre executado no sentido horário, por ser o movimento acumulador de energia, ou vitalizador; mexer o alimento no sentido contrário torna-os enfraquecidos e menos nutritivos. A mesma panela não deve ser mexida ou tocada por mulheres diferentes, pois cada pessoa tem o seu nível de energia e as energias de diferentes pessoas não devem ser misturadas para não estragar o alimento. Uma mulher menstruada nunca toca ou prepara os alimentos, pois é considerada impura nos dias de ciclo menstrual e vulnerável às energias negativas, que poderão passar para os alimentos. Uma mulher ma—humorada, irritada, triste, colérica ou exasperada, nunca deve tocar nos alimentos para que esses sentimentos não sejam absorvidos. Bons pensamentos e sentimentos devem estar sempre presentes durante o preparo das refeições para que elas tenham seu valor energético enriquecido por estas boas referências. Cantar, ouvir música, rememorar fatos agradáveis ou planejá-los são boas maneiras de esvaziar os pensamentos de inutilidades e prepara uma boa e energética refeição.
Quando os ciganos preparam grandes assados o fazem a céu aberto e servem para alimentar toda a comunidade ou clã, que possui um espírito altamente fraterno e solidário como se todas as famílias da caravana fossem uma só. Esta é uma maneira de cantarem, dançarem, beberem, enfim, fazerem uma festa, que é uma das coisas de que o povo mais gosta e que tem mais prazer de fazer, já que são alegres e festivos, e não se entregam às dificuldades naturais da vida e às muitas decorrentes da sua maneira nômade de ser e estar. Eles possuem uma relação inata com o não ter, daí que não experimentam as angústias daqueles que vivem pelo ter, pelo possuir, pelo acumular. O cigano precisa apenas da alegria de sua alma e da voz que canta as melodias do seu coração nômade, mas temente a Deus.
Namastê
Quando se estuda a origem de um povo, sua formação e desenvolvimento social, religioso, econômico, é necessário levar em conta documentos ou registros escritos. O povo cigano não possui uma linguagem escrita; o romanê ou romanez, que é a sua linguagem básica, é essencialmente oral. É expressamente proibido ensinar o romanê a não-ciganos e livros que contenham vocabulário ou dicionário deste idioma, com certeza, não poderão provar sua autenticidade. Ela é tradicionalmente transmitida de pai para filho, de uma geração para outra. Sendo assim, não se tem documentos da história dos ciganos, que também é passada oralmente.
Afirmam os estudiosos que o povo cigano teve sua origem na civilização da Índia antiga, mais ou menos há três mil anos antes de Cristo. Nessa época, vivia um povo às margens do rio Indus, região noroeste da Índia, onde hoje está o Paquistão. Era um povo amante da música, da magia e das cores alegres, e que não estava preparado para a guerra; por isso, quando a região foi dominada por invasores árabes, escravizando o povo, alguns conseguiram fugir para outras terras. Quando lá chegavam normalmente eram bem recebidos, pois seus chefes apresentavam-se como príncipes, duques, condes e levavam falsas cartas de apresentação da nobreza e do clero europeus. Diziam-se peregrinos cristãos vindos do Egito e assim, obtinham licença das autoridades locais para se instalarem. Logo depois, os homens começavam a praticar pequenos furtos e as mulheres, a ler a sorte. Eram então considerados malditos e responsáveis por epidemias e incidentes. Algumas vezes, ofereciam-lhes dinheiro para deixar a região; outras, eram perseguidos e expulsos. Foram desta forma, tornando-se um povo nômade.
Várias lendas foram criadas para justificar tamanha perseguição e, na época das Grandes Descobertas os ciganos encontraram hospitalidade na Espanha e em Portugal, interessados em enviá-los às colônias africanas, asiáticas e americanas.
No Brasil, conhecemos dois principais grupos ciganos: os Calom, que vieram da Espanha e Portugal, por volta de 1574, e foram, na sua grande maioria, feitores de escravos nos engenhos de cana-de-açúcar; e os Rom, que chegaram da Hungria, Turquia, Rússia, Iugoslávia e Grécia a partir de 1822, embora a maioria tenha vindo no período entre as duas grandes guerras mundiais.
Outros pontos que parecem justificar a sua origem é a pele morena, comum aos hindus e ciganos, o gosto por roupas vistosas e coloridas e alguns princípios religiosos como a crença na reencarnação e na existência de um Deus Pai Absoluto. Tanto para os ciganos quanto para os hindus a religião é muito forte e norteia muito do seu comportamento, ditando normas e fundamentos importantes, que devem ser respeitados e obedecidos. Quem infringe algum princípio comete falta grave, ficando sujeito às penas dos círculos cármicos até por algumas encarnações, além das penalidades impostas pela sociedade.
O gosto pela dança e sua importância ritualística, a forma recatada das mulheres não expondo o corpo, também podem ser consideradas outras semelhanças entre os hindus e os ciganos.
Outro fato que chama a atenção para a provável origem indiana do povo cigano é a santa por quem nutrem sua principal devoção, Santa Sara Kali.
Kali é venerada pelo povo hindu como uma deusa, que consideram como mãe universal. Sua pele é negra tal como Shiva, uma das pessoas da Trindade divina para os indianos (Bramam, Vishnu e Shiva). Kali é a forma feminina da palavra kala, que significa tempo. Para os ciganos, Santa Sara possui a pele negra, daí ser conhecida como Sara Kali, a negra, num paralelismo claro com a deusa hindu. Santa Sara abençoa o povo, zela pela família, os acampamentos, guarda a tenda, os alimentos, aniquilando os poderes negativos e os males que possam afetar as famílias ciganas.
Das lendas criadas para justificar a perseguição aos ciganos, sabe-se que:
Uma delas diz que os ciganos são descendentes da família que negou hospitalidade a José e Maria durante sua fuga para o Egito.
Outra afirma que foi um cigano quem forjou os cravos que prenderam Jesus à cruz.
Sempre foram equiparados às bruxas e aos feiticeiros e, por conseqüência, sofreram acusações de prática de magia negra e de pactos com o Diabo.
São considerados ladrões.
Em decorrência dessas lendas,em 1539, o Parlamento Francês fez uma proclamação, no que foi seguido em 1560 pelo Estado Geral de Orléans, na qual “todos os impostores, conhecidos pelos nomes de boêmios ou egípcios, devem abandonar o reino, sob a penalidade das galés’. O rei Henrique VIII da Grã-Bretanha assinou um edito semelhante em 1531. Por volta de 1572, os ciganos foram forçados a abandonar Veneza e Milão. Enquanto que a Suécia os expulsou em 1662.
Na Albânia e na Grécia os escravos pagavam impostos mais caros. Na Holanda, eram condenados à forca. Na Polônia, Dinamarca e Áustria havia punição para quem os acolhesse.
Contudo, tanto a Grã-Bretanha como a França e a Espanha combateram o problema de forma ambígua, valendo-se por um tempo da deportação dos ciganos, o que acabou ocasionando a disseminação por todo o mundo. A Grã-Bretanha os enviou para a Austrália e também para o Novo Mundo; a França mandou-os para a Luisiana; e a Espanha deportou-os para o Brasil. E, nos meados do século vinte, os ciganos foram mais uma vez perseguidos de modo selvagem. Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas sitiados na França construíram onze campos de concentração só para eles. Sabe-se que pelo menos duzentos e cinqüenta mil deles morreram nesses campos. Alguns pesquisadores chegaram a afirmar que uma quantidade de ciganos, superior a seiscentos mil, foi morta em todos os países que se encontravam sob o domínio alemão.
Na realidade, o que provoca intolerância é a capacidade que temos ciganos de preservar seus costumes, tradições e língua, apesar da maioria ser analfabeta e a cultura ser transmitida oralmente. Os valores culturais nunca são totalmente revelados aos gajons, reservando assim, os interesses do grupo.
Acreditam-se descendentes de Lilith, primeira mulher de Adão, e por isso, livres do pecado original e superiores aos gajons. Por esse motivo, não aceitam um gadjé como superior, e se apegam às antigas profissões que caracterizavam seus grupos.